Fim de semana prolongado em Maio e o convite para visitarmos 2 ilhas em 3 dias: A Terceira, aproveitando uma escala de quase 12 horas, e São Miguel.
Foi uma correria para conseguirmos ver tudo o que vimos, mas valeu bem a pena. No entanto para quem quer desfrutar do destino com tranquilidade o ideal é ficar por mais alguns dias.
Há muito para ver, para conhecer, para aprender. Os Açores são mais do que a beleza da paisagem natural. São um caldeirão que mistura importantes acontecimentos históricos, costumes e tradições invulgares e um modo de vida que se leva ao ritmo da natureza.
Os Açores, embora resultem das mutações da própria terra e das influências das gentes que por lá passaram ao longo dos séculos, mantêm uma pureza admirável, que lhe valeu o título de destino turístico mais sustentável do mundo.
Mergulhemos então nas profundezas de um dos destinos mais verdes do planeta.
A bordo do A310 da Sata seguiam 222 pessoas, lotação completa. A Sata é a companhia aérea do arquipélago, e tem mais de 60 anos de experiência a voar nas ilhas açorianas. É bom contar com este conhecimento quando à nossa espera está um temporal dos diabos.
Assim que o piloto faz a aproximação a terra temos a imagem da silhueta da ilha, do verde que só termina no mar, dos mil pedaços que formam a gigante manta de retalhos, das vaquinhas que pastam livremente durante todo o ano.
Aterramos na Terceira às 9h30, hora prevista. O que não estava previsto era a chuva! Sabemos que os Açores são uma roleta russa do clima, e que no mesmo dia podemos fazer as 4 estações, mas tínhamos fé em São Pedro. Aparentemente, e talvez por ser feriado, o santo encontrava-se de folga.
À nossa espera, o Sr. Nani, guia que nos acompanhou nesta visita, diz –nos que nem no inverno choveu assim, e que no dia anterior os voos que iam para São Miguel tiveram que aterrar na Terceira, obrigando os passageiros a uma estadia inesperada na ilha. Excepção para as low cost que essas tiveram o inconveniente maior de retomar a Lisboa.
Visita molhada é visita abençoada!
Após um breve “briefing” sobre a nosso itinerário e os ajustes que teriam que ser feitos, seguimos em direcção à Praia da Vitória. Paramos no Miradouro da Serra do Facho onde a estátua do Imaculado Coração de Maria, padroeira deste localidade, admira a maravilhosa vista sobre a baía.
Ao longo do caminho vamos ouvindo as explicações sobre a importância dos americanos no desenvolvimento da Praia da Vitória, e a incerteza no futuro agora que a redução dos militares na Base das Lajes é um facto.
Cruzamos-nos com o primeiro Império e a conversa muda naturalmente para as crenças dos terceirenses e sua devoção ao Divino Espírito Santo. Os impérios são pequenos santuários de cores garridas e existem cerca de 70 espalhados por toda a ilha.
Estamos junto à costa, na estrada que vai para Angra. Vemos as primeiras curraletas, pequenos lotes de terra murados por pedra vulcânica, que servem para proteger a vinha dos ventos e da maresia ao mesmo tempo que o negro da pedra absorve o calor.
Ao passarmos o Porto Judeu, freguesia piscatória, avistamos o Ilhéu das Cabras. A pequena ilhota em forma de vulcão, partida em 2 pedaços, recorda-nos Vitorino Nemésio, escritor terceirense, que a chamou de “a estátua da nossa solidão”.
Angra – A Cidade Património
Na chegada a Angra do Heroísmo, somos recebidos pelo Monumento ao Toiro, símbolo da forte cultura tauromáquica da ilha. As touradas à corda são famosas em todo o mundo, e de Maio a Outubro garantem diversão tanto aos locais como aos turistas.
Subimos o Monte Brasil, um antigo vulcão que ocupa uma área de 3km2 entre a Baía de Angra e a Baía do Fanal. Antigamente um ponto estratégico da defesa da ilha, hoje é reserva natural e uma área de lazer e recreio.
No miradouro do Pico da Cruzinhas, o Sr. Nani assegura ser aquela a melhor vista sobre Angra. O painel de azulejo à nossa frente dá-nos uma ideia da paisagem que o nevoeiro cerrado não nos deixa ver.
Descemos ao centro para conhecer os principais edifícios desta cidade património da humanidade. Num dia tão cinzento sobressai o colorido do casario.
Já passa da uma e é tempo de nos sentarmos à mesa do Restaurante Adega Lusitânia onde provamos a melhor sopa de sempre, a da Tia Urânia. Segue-se a famosa Alcatra de Carne, tenra e suculenta, e para terminar a queijada dona Amélia.
Viagem ao Centro da Terra
Fazemo-nos novamente à estrada. O nosso destino é o Algar do Carvão, o monumento natural mais importante da Terceira. À medida que avançamos em direção ao interior da ilha, o verde da paisagem vai-se tornando mais intenso. Passamos pela Lagoa das Patas, e pelas Furnas do enxofre onde pequenas fumarolas bafejam nuvens de fumo, lembrando-nos que a ilha está viva.
Esta constatação amplifica a emoção quando descemos os túneis de acesso ao Algar, afinal estamos a entrar no único vulcão do mundo cujo interior é visitável.
Parecemos personagens numa obra de Júlio Verne e o cenário não podia ser mais perfeito: a cratera com vista para o céu, as paredes forradas de musgos, a ampla catedral enfeitada de estalactites e estalagmites de sílica e a pequena lagoa que repousa no fundo do algar. Impressionante!
De volta à superfície seguimos para a freguesia dos Biscoitos. Na costa norte a paisagem é feita de contrastes: o verde da vinha, o negro da lava e o azul do mar.
É destas terras queimadas pela erupções vulcânicas que nasce o bom vinho verdelho. No museu do Vinho conta-se a história da cultura da vinha na Terceira, que remonta ao ano de 1503.
A nossa visita está quase a terminar e é hora de regressarmos ao ponto de partida, a Praia da Vitória. Jantamos cedo num restaurante com vista para a marina. O final da tarde está bonito a provar-nos que depois da tempestade vem sempre a bonança.